Saturday 25 January 2014

A história do Meco e praxes

First of all, I'll have to apologise to my English readers (if any reads me haha), but today my post will be in Portuguese, as it is a topic that is being discussed at the moment in Portugal.

Este é um assunto que anda nas notícias já há mais de um mês, e que ultimamente tem gerado muita polémica. Mesmo entre os que não residem no país, como eu. Primeiro porque morreram 6 jovens e depois pela especulação sobre o que aconteceu. Em Dezembro, quando estive em Portugal lembro-me de ver na televisão que um grupo de 7 jovens que estariam a passar um fim de semana numa terra perto do Meco tinham ido à praia durante a noite e 6 deles desapareceram, numa altura em que o mar estava bastante agitado. Achei a história um pouco estranha, pois apenas uma pessoa tinha sobrevivido. Depois achei estranho, pois porque raio estariam eles na praia à noite em pleno inverno e em altura de marés vivas? Isso é algo que gosto de fazer no verão, quando está calor e vamos dar uns mergulhos para refrescar, não no inverno. Entretanto os corpos foram aparecendo, e deixei de prestar atenção à história.

Esta semana, cada vez que entrei nas redes sociais alguém publicava sobre o assunto e percebi que afinal, este ainda era tema polémico em Portugal. Vim a descobrir que os jovens estavam numa espécie de encontro para testar novas praxes ou num ritual de praxes, pensado "ok tudo bem, não percebo o porquê, mas cada faculdade é diferente". Continuavam os posts e fui lendo as noticias do Público, CM etc. E aí percebi que algo de muito errado aconteceu nessa noite, e que agora me causa náuseas só de pensar. O único sobrevivente, alegou amnésia devido ao choque (isto parece-me desculpa esfarrapada), os pais das vítimas estão indignados porque ele não fala, o que me parece justo, pois eles tem o direito de saber o que aconteceu aos seus filhos; mas para mim o pior de tudo, foi saber que sim, realmente eles estavam lá por praxes e que aparentemente eles tinham pedras amarradas aos pés. Sim, pedras. Amarradas aos pés como se fossem animais. Mas isto são praxes?

Quem me conhece, sabe que nos meus anos de estudante universitária sempre participei e fui defensora das praxes. Daquelas em que existe respeito pelos caloiros e pelos veteranos. Daquelas cujo o objectivo é integrar pessoas, torná-las mais a vontade com os seus colegas e criar o espírito académico que nós conhecemos. Neste momento, acho que a minha opinião está a mudar. Sempre se soube que há praxes abusivas um pouco por todo o país, aliás todos os anos se fala disso nas noticias, mas isto é algo que me deixa sem palavras.
Como disse, as praxes para mim são um ritual de integração, não de autoridade, onde veteranos frustrados abusam da sua autoridade sobre os caloiros. Ainda hoje discuti este assunto quando um amigo fez uma publicação relacionada com este tópico no Facebook. Falava-se da responsabilidade que as pessoas tem durante as praxes, mas principalmente do facto de as pessoas dizerem não. Eu sou da opinião de, participa quem quer. Quem não quer, diz não e pronto. Mas como também disse que por existir muita peer pressure, é difícil pessoas dizerem não. Nem todos são fortes o suficiente para dizer não, muitos deles até vão bastante assustados e não nos podemos esquecer da persuasão que existe. E depois há os que fazem de tudo para serem integrados. Nem que tenham de andar a rastejar durante horas. E depois de ler uma reportagem da TVI24 em que se dizia que uma das jovens que morreu foi deixada no meio de uma serra sozinha para que "se preparasse para a vida" parece-me que este era exactamente o tipo de pessoas que eles eram (atenção, não os conheci, não estou a julga-los por isso).

É uma tragédia que uma coisa destas tenha acontecido, mas espero que felizmente isto mude mentalidades e que se responsabilizem as pessoas envolvidas nisto. Há anos que ouvimos dizer que alguém morreu ou que teve algum tipo de lesão por causa de praxes abusadoras. Espero sinceramente que não tenha de haver mais mortes para se mudar a mentalidade dos jovens estudantes que praxam desta forma. Dizemo-nos ser um país civilizado, mas assim que comentei com a minha amiga inglesa sobre isto, ela perguntou-me: "Mas estão na tropa?"

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